quinta-feira, 19 de março de 2009

Busca Estranha

Reparei que vivo buscando algo que me faz falta de alguma forma.Revirando meus pensamentos, descobri o equívoco: eu não buscava, esperava encontrar.E mesmo encontrando esse algo, tinha medo de não ser exatamente o que eu pensava ser, exatamente como pensava ser. Então optei por não esperar encontrar mais.

Mas não tem jeito, esse algo faz falta. Me mostra nos pequenos detalhes do cotidiano que poderia estar aqui, mas não está. Me lembra como todos precisam dele, mas tentam não enxergar. Então comecei a pensar novamente a respeito, tentar encontrar esse algo perdido e sentido. Conclui ser simples, sem ser fácil: companhia.

Não, não é um amor, nem tão pouco uns beijos descompromissados. Há pessoas possuidoras de ambas coisas simultaneamente , e ainda sim, não têm companhia. Obviamente sinto falta de relações mais.. carnais, daquele friozinho na barriga antes de sair com alguém, de contato, o corpo sente . Mas sem companhia, a lacuna não preenchida é maior.

É possível satisfazer o falta sentida pelo corpo facilmente. É possível encontrar beijos casuais em qualquer lugar. É possível encontrar desejo em muitas pessoas.É possível entrar em contato, sentir-se tocada, sentir-me atraída por várias pessoas. No entanto, não é possível conseguir um abraço sincero solto por aí. Nem se ter uma troca de olhares de felizes somente pela presença das pessoas em questão em qualquer esquina. Tão pouco um entrelace de mãos transmissor de segurança. Não é fácil ter uma companhia.

Ver alguém sorrir porque você chegou. Estar ao lado de uma pessoa , ficar em silêncio e não haver constrangimento por isso. Saber que há desejo, contudo não ser o único sentimento conectivo . Sentir confiança, ter diálogos e não monólogos e sentir prazer neles.Alguém despreocupado e desinteressado em coisas a serem oferecidas. Alguém sem ações premeditadas , nem calculadas. Uma companhia para me acompanhar. maos%20dadas

Eles

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E nós vivemos reclamando que eles não nos dão a devida atenção que merecemos. Reclamamos que não reparam em nós, que não notaram nosso vestido novo de 550,00 reais. Que , pode parecer absurdo, mas eles nem comentaram sobre os três dedos que  cortamos do comprimento do cabelo. Que não viram que a nossa lingerie caríssima é nova e foi comprada só para ser usada com eles.

Reclamamos de como são impulsivos e como podem ser sem-vergonhas. De como brigam facilmente e depois acham que tudo está bem. Odiamos como olham pras outras mulheres e de como isso nos faz sentir as últimas das últimas. Não suportamos a famosa falta de sensibilidade e não entendemos como eles podem gostar tanto de carros, pornografia e filmes violentos e porque praticamente dão risada do Diário de Uma Paixão enquanto choramos como crianças.

E então, nós perdemos tanto tempo reparando nessas diferenças gritantes que não nos damos conta que são elas que nos unem. Não vemos que as qualidades deles nos completam de uma forma inexplicável. Que toda a sensibilidade que procuramos neles é aquela que temos em excesso. Que quando eles nos pegam chorando em filmes e nos falam “ mas é só um filme, sua bobinha, não precisa chorar” demonstra que também são sensíveis. Que aquele abraço apertado num dia de TPM é tudo que nós precisávamos – muito mais que chocolate -.

Esquecemos que toda vez nos encontramos com eles, embora não tenham levado 3 horas para ficarem prontos, estão incrivelmente lindos, cheirosos e ficam babando quando nos vêem, quando nós também babamos. E aí achamos que porque eles não repararam que mudamos a cor do esmalte de ‘renda’ para ‘paris ‘ e eles não notaram, é o fim do mundo. Que sim, definitivamente os homens são uns idiotas insensíveis que não levam em consideração o quanto nos entregamos a eles e como leva tempo e dinheiro para ficarmos lindas pra eles.

E eles não entendem qual a bendita diferença entre pintar o cabelo de loiro claríssimo e loiro claríssimo acinzentado, e nós não entendemos porque eles ficam doentes quando um Porsche de 15.10³ cavalos de potência passa perto. Mas sim, mulheres, eles reparam em nós. Eles notam que nosso cabelo está bem cuidado, que fazemos as unhas. Eles adoram estar perto de nós e sentir nosso perfume e reparam quando não o estamos usando. Reparam na forma como nos vestimos e nos comportamos. Reparam na nossa excessiva sensibilidade .

Mas nós não reparamos o quão bom eles podem ser e são. Em como se sentem orgulhosos por estarem conosco. Em como se esforçam pra repararem em cada detalhe do nosso visual , só para poder comentar e ver como a gente fica feliz. Não vemos que não há independência financeira ou status social que substitua um amor verdadeiro que eles podem oferecer. Não notamos que eles gostam de como nós somos, com ou sem maquiagem, com ou sem a lingerie caríssima da Victoria’s Secret, com ou sem nossas infinitas paranóias. E quando estamos com eles, não notamos como a simplicidade contrastante deles nos faz falta.

E reparamos tanto no fato de eles não repararem nos detalhes, que esquecemos de notar que eles reparam no conteúdo, no conjunto da obra, e nós, nas pequenas coisas que não nos fazem falta quando estamos longe deles.