segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ninguém serve

A gente passa a vida reclamando. O médico que nos atendeu nos fez esperar horas; nossa mãe é imcompreensiva, os irmãos são chatos, o pai é mandão. O professor não explica direito, o vizinho é um insuportável, a escola/faculdade/cursinho, não é tão bom quanto a gente achava que era. Os homens são cachorros, as mulheres são piranhas. Os amigos dão mancadas, na tv aberta não há programas que prestem, nosso bichinho de estimação dá trabalho. Se a gente ta solteiro , é ruim; se namora, também tem lá seus altos e baixos. O chefe é mercenário, o governo não vale nada, os políticos são todos iguais. A Veja é tendenciosa, o que tem na Scientific American é difícil de entender e a Capricho é tosca. As meninas santas são sem graça, as extrovertidas , se bobearem , estão na boca do povo ; as que se arrumam têm que tomar cuidado pra não serem taxadas de palhaçinhas ambulantes, as que não se arrumam, de desleixadas. Os meninos quietos precisam de mais atitude, os de atitude, de menos. Mulheres são mto sentimentais, homens são safados demais. Eles gostam das 'fogosas', mas falam mal; eles babam nas 'playboys' da vida, e chingam as modelos de vulgares.
O jornalista redigiu errado, o vestibular não sabe avaliar, e a faculdade do outro não é tão boa quanto a nossa. Entretanto, a nossa também está cheia de defeitos, que a gente só enxerga com outras pessoas do mesmo meio. As filas para qualquer coisa estão intragáveis, a bebida do bar estava doce demais, mas no outro dia estava de menos. Os garçons demoram eternidade para atender, a mocinha do caixa tem cara de bunda, o direitor se acha o mandão.
Os populares do trabalho/escola/academia/etc pensam ter um rei na barriga; as celebridades são desequilibradas. O mundo é uma droga, ninguém ajuda ninguém, falsidade is in the air.

E a gente? É muito melhor que qualquer coisa daí de cima? Pra mim, somos tão bons como qualquer item citado, mas, infelizmente, ainda não inventaram espelhos para os defeitos não- palpáveis.Muitas vezes pensamos ser tão melhores, quando na verdade, somos até piores.

Ninguém serve para ninguém ,as pessoas aos próprios olhos são só qualidades, e os outros, só defeitos.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nosso analgésico


Todo mundo, acredito eu, já teve momentos de erros bobos cometidos, ainda que alguém tivesse aconselhado a não cometê-los . É uma mania inútil de acreditar em nosso 'achômetro' e desprezar as experiências alheias. Quantas vezes , antes de sair, as mães alertam: "leva blusa de frio !" , " fecha a janela", " não anda descalço, não bebe nada gelado ". Ficamos irritados com tantos cuidados e, às vezes, por pirraça, fazemos exatamente o oposto. Quanta bobagem. No dia seguinte a garganta dói, os sintomas de resfriado aparecem, e quem sabe, um dia de cama com o modo 'fotossíntese' ligado forçadamente.É isso aí, quem mandou não dar importância a algo importante.

De igual maneira agimos no dia-dia com as pessoas que gostamos.Sempre nos dizem : cuidado com suas atitudes, pense antes de falar, de agirde forma impulsiva. E quem ouve ? Então erramos, magoamos os outros, nos machucamos. Achamos que , ok, erramos, mas depois pedimos desculpas e estará tudo bem. Acontece que nem sempre as coisas caminham assim. Um pedido de desculpas nem sempre remedia totalmente um erro, geralmente ameniza. Digamos que.. tira a febre, mas não garante que a dor de cabeça também passe.

Embora não pareça, desculpas consolam a gente, não a pessoa afetada em questão. E não, nem sempre está tudo bem depois de um 'ah, me desculpa ! ' . Dependendo do que se disse, do que foi feito, talvez nunca saia da memória do outro. Então , nesse caso o melhor é prevenir mesmo, e não apelar para "benegripes" da vida; evitar não só tomar gelado, mas também esfriar nossa relação com quem gostamos por magoá-los com deslizes que poderiam- e deveriam- ser evitados.

A dor é um sinal que o corpo envia para nos falar que algo não anda bem, que é preciso mudança de postura, de modo de vida. Ela ensina, te impulsiona a agir de uma forma melhor-para você e para os demais. Mas não é necessário que os outros sejam as cobaias destinadas aos testes de nossas infinitas formas de pedir desculpas.

domingo, 2 de agosto de 2009

Realidade

Sabe, andei reparando que durante boa parte da nossa vida nós passamos idealizando tudo. Quando era criança idealizava a gloriosa fase em que teria vários professores, quando eu finalmente iria ter aquelas matérias de pessoas adultas ( óó! ) , parecia que seria tão legal ! Achava que tudo seria igual costumava ver nos filmes. Que quando me apaixonasse pela primeira vez seria incrível, o menino seria o mais lindo do mundo e morreria de amores por mim - e pior, que ele adoraria saber que era o primeiro que passava pela minha vida. Porque ninguém ensina a gente que nada é perfeito ? E porque ninguém nos fala que, embora tudo tenha muitos defeitos, que embora muitos decepcionem a gente um dia, aquilo que a gente espera , um dia vai aparecer, mas de um jeito diferente.
Ensinam a gente que os homens não prestam. Ok. Mas o que seria não prestar ? Porque ninguém nos falou, ao invés de ' menina, homem é tudo igual, não valem nada' , algo tipo' seja realista, observe onde está indo e se vale a pena'. Ai, acho que , talvez, pudesse ser mais fácil levar as decepções que passam pela vida da gente. Se você toma como ponto de partida que todas as pessoas ao seu redor são podres, um dia você pode encontrar alguém realmente legal e não perceber isso. Da mesma maneira, se você toma como ponto de partida que todos serão bons com você, quando aparecerem os oportunistas, falsos, e interesseiros, você se decepcionará, e será bem triste.
Não sei no mundo masculino como as coisas funcionam, mas pelo que eu percebi no 'meu' mundo é que queremos que tudo seja perfeitinho. Então, nós vamos crescendo e vendo que a realidade não é perfeita, que todo mundo vai se decepcionar, infelizmente. Mas nós também vamos decepcionar alguém. Nós queremos que aquele carinha gracinha, que vimos no bar outro dia, seja sincero, legal, divertido, que nos chame pra sair,seja agradável, que diga coisas lindas, que seja sensível, praticamente, que seja perfeito. Mas porque nós não lembramos que ele tem direito de não estar afim da gente, de não querer compromisso (nenhum), e sei lá, de querer que, depois de conseguir algo, virássemos uma pizza ? Isso parece - e é- tão insensível.. mas é um direito de escolha. Quando as intenções são essas, a pessoa envia sinais, às vezes bem claros por sinal, mas nós insistimos em nos enganar.Em achar que, embora ele pareça totalmente longe de 'prestar', conosco, será diferente-claro.
Queremos achar que ele vai ver que somos ótimas, que temos 'n' qualidades, que ele vai se arrepender de não ter curtido. E aí, acho que poucos (as) percebem que perdem tanto tempo nisso, tanto tempo com algo e alguém que, definitivamente, não valia a pena. Que podiam aproveitar esse tempo e ir encontrar alguém legal de verdade, e que mostrasse isso.
E sabe, acho que essa mania de se auto-enganar atinge todos os setores da vida. Nós perdemos - eu perco, perdi- tanto tempo dedicando atenção a fatos, pessoas, situações que fogem da perfeição idealizada , sendo que esse tempo podia ter sido tão melhor aproveitado.
A realidade pode parecer muito cruel, ou pode ser melhor do que esperamos. Depende do tamanho da 'bolha' em que vivemos. Quanto mais realista tentamos ser,quanto mais tentamos compreender o que nos cerca, quanto mais somos tolerantes, quanto menos tentamos nos enganar, melhor e mais fácil tudo pode ser. E então, enxergamos o que realmente é importante- e nos faz bem.